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Texto: Sandrah Guimarães

Caranguejo mutante, parasita “alien”, “areia movediça”, gavião-caranguejeiro, mão-pelada são

algumas curiosidades encontradas por pesquisadores

Em filmes um pouco mais antigos era comum cenas de ação envolvendo as temidas areias movediças. Mocinhos e vilões ficavam presos no solo mole e, quanto mais se mexiam, mais afundavam. No litoral brasileiro, pesquisadores do Programa Rebimar, patrocinado pela Petrobras e pelo Governo Federal, enfrentam desafios parecidos nos manguezais. Para chegar em alguns pontos, eles precisam literalmente evitar serem engolidos junto com os equipamentos. 

Não é difícil atolar até ficar complemente impossível se mover. O jornalista e documentarista do Rebimar, Gabriel Marchi, já atolou algumas vezes com o equipamento pesado. “Só não atola quem nunca foi. Eu afundei até a cintura. Foi desesperador”, conta ele. (confira o vídeo aqui)

A bióloga Cassiana Baptista Metri conta que em locais onde há coleta de caranguejos e manguezais mais próximos a comunidades, um dos lixos mais comuns são sapatos e solas de sapato. “Descola mesmo. A lama é tão pegajosa que se o calçado não for apropriado você fica descalço nos primeiros minutos, não tenha a menor dúvida.”

Em outros cantos do país as “areias movediças” também desafiam a persistência dos cientistas. Janaina Oliveira coordena o Projeto UÇÁ, outra iniciativa patrocinada pela Petrobras. A bióloga marinha lembra de quando começou a atuação no manguezal, no Rio de Janeiro, e hoje ri da situação. “Em uma das minhas primeiras vezes em campo, em 2013, eu atolei e fiquei presa. A equipe continuou fazendo o trabalho e eu fiquei lá parada esperando. Na volta, o pessoal retornou para me salvar”, recorda.

Fauna

A fauna do manguezal guarda outros mistérios assustadores. Um deles foi um caranguejo zumbi, encontrado durante um dia de pesquisa. “Ele estava completamente oco por dentro, como um morto-vivo. O catador pegou na nossa frente. Ele estava vivo, se mexendo e tudo mais”, relata Cassiana Baptista Metri.

 

Outro caranguejo encontrado pela equipe estava sendo devorado vivo por outro animal, que lembra muito a aparência dos aliens em filmes de ficção. “Encontramos esse parasita grande que parece um alienígena, branquinho, dentro do caranguejo. Mas encontrei um só, o que é positivo, indica que os bichos não estão tão parasitados. A espécie é um risópode, parente do tatuzinho de jardim. Consegui filmá-lo ainda vivo, quando o retiramos de dentro do caranguejo”. 

Parasita encontrado vivo dentro de caranguejo. Imagens: Cassiana Baptista Metri. Clique na imagem e confira o vídeo.

Confira mais imagens e vídeos aqui.

Outra surpresa foi trazida por um aluno, um caranguejo que tem uma das patas da frente com três dedos. “A família do estudante estava toda reunida para a refeição e os caranguejos já estavam cozidos. Foi quando alguém falou que queria aquele de três dedos. Por sorte, nosso aluno resgatou o bicho da mesa e hoje o exemplar raro está na faculdade. É nossa estrela. Sempre levamos para as exposições. Foi o único assim encontrado por aqui, até agora”, conta Metri. 

Caranguejo de três dedos encontrado por estudante da Unespar. Foto: Anne Carolina Sandi.

O caranguejo é uma iguaria que atrai diversas espécies curiosas de predadores. Em uma das frentes, o Projeto Uça, monitora o retorno da fauna em áreas restauradas pelo programa. “Colocamos câmeras em alguns pontos e conseguimos registros do mão-pelada, um mamífero que se alimenta do caranguejo. Ele tem esse nome porque não tem pelos nas patas”, explica Janaina. 

Mão-pelada em ação! Câmeras registram animal caçando caranguejos no manguezal. Crédito: Projeto Uça. Clique na foto e confira o vídeo.

Os pesquisadores, acostumados em ver a dificuldade dos catadores no mangue, se perguntam como o bichinho de braços tão curtos consegue capturar os caranguejos nas tocas. Um enigma que logo deve ser desvendado pelas armadilhas fotográficas do projeto.

E não é só do solo vem o perigo para os caranguejos. Outro predador voraz é o gavião-caranguejeiro, uma águia rara que só vive em áreas de manguezal. O melhor lugar no planeta para observação é na Estação Ecológica de Guaraqueçaba, área de atuação do REBIMAR. Isso atrai um grande número de observadores de aves do mundo inteiro.

 

“Quando a maré baixa, o gavião-caranguejeiro aproveita para caçar. Com o bico forte, consegue quebrar com facilidade a dura carcaça do caranguejo-uçá e outros crustáceos. Ele tem entre 42 a 46 centímetros. Pode ser avistado o ano inteiro, mas no período reprodutivo fica mais ativo, o que facilita a observação”, orienta o guia e ornitólogo Raphael Sobania. 

Outra ave surpreendente que depende dos manguezais é o Guará. A alimentação baseada em pequenos caranguejos torna a cor dessa ave impactante. O vermelho vivo parece saltar na paisagem verde do manguezal. A espécie chegou a ficar extinta no Paraná por cerca de 80 anos e os bandos retornaram ao litoral em 2008. “Ainda é um mistério o retorno dos Guarás ao estado. Uma hipótese é que seja um excedente de população de Cubatão, em São Paulo”, avalia Sobania.