Censo no fundo do mar vai estimar a população de peixes gigantes no litoral do Paraná e de São Paulo

 Pesquisadores mergulham fundo em recifes naturais e artificiais para saber a quantidade de Meros e outras espécies. Os dados vão contribuir para ações de conservação e para compreender as mudanças desses ambientes submersos ao longo do tempo.

Pesquisador e Mero (Epinephelus itajara)

O mero está no topo da cadeia alimentar. Sua dieta inclui peixes, moluscos e crustáceos, acabando assim por controlar a população de várias espécies que vêm abaixo dele.

Durante dois anos, um grupo de mergulhadores científicos do Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha (REBIMAR) da Associação MarBrasil vai percorrer paisagens submersas para monitorar a fauna marinha. Além dos Meros, eles vão registrar em fotos e vídeos os cardumes de peixes e muitas outras espécies da fauna que convivem no ambiente submerso. “Com o censo vamos entender a evolução dos recifes artificiais para compreender como eles se comportam ao longo do tempo. Nunca serão iguais aos ambientes recifais naturais, pela complexidade, quantidade de fendas, buracos e riqueza de espécies. Mas a importância é monitorar ao longo do tempo para compreender o desenvolvimento da fauna e avaliar a ocorrência de novas espécies que possam colonizar esses ambientes, ou ainda verificar a redução de algumas espécies de peixes que são alvo de pesca”, explica André Cattani, coordenador geral do REBIMAR IV.

Os pesquisadores já começaram a contagem no trecho que abriga o Parque Nacional Marinho das Ilhas dos Currais, nos ambientes recifais das Ilhas de Castilho e Figueira, no litoral de São Paulo, e nos bancos de arenitos localizados no litoral paranaense próximos às balsas naufragadas Dianka e Espera 7.

Dois mergulhadores descem até os locais da amostragem e esticam uma trena de 25 metros. Eles percorrem essa distância e fazem as observações dos peixes com identificação visual e filmagem, caso precise confirmar alguma espécie que não reconhecemos imediatamente. Vamos contar os Meros e monitorar os peixes menores que ficam em tocas e a fauna incrustante, aquelas algas e organismos que se fixam nos costões e recifes artificiais”, detalha Cattani.

Para o censo, os pesquisadores vão usar equipamento de mergulho com rebreather, sistema de circuito fechado de ar comprimido, em que o mergulhador não produz bolhas nem ruídos. O rebreather é muito mais discreto no ambiente marinho do que o usual cilindro de ar, o qual produz bolhas, permitindo mais tempo de observação de espécies e seus comportamentos naturais. Com essa inovação tecnológica, os mergulhadores conseguem permanecer no fundo por períodos de 60 minutos em profundidades de até 30 metros.

A pesquisa conta com a parceria e experiência de outra iniciativa patrocinada pela Petrobras através do Programa Petrobras Socioambiental: o Projeto Meros do Brasil, que atua há quase duas décadas no estudo, no monitoramento e na conservação desses peixes gigantes. “O levantamento da abundância é uma ferramenta para estudar a população e o tamanho dos Meros ao longo das estações do ano, e permite principalmente entender em que época estão reunidos e em quais locais, quando começam a chegar para se reproduzir e como se dá essa variação ao longo dos anos. Com base nesses dados, podemos traçar estratégias de conservação”, explica Matheus Oliveira Freitas, coordenador do Projeto Meros do Brasil no Paraná.

Dessa forma, conhecendo os locais e épocas de reprodução, os pesquisadores poderão contribuir com os órgãos fiscalizadores. Os dados ainda irão ajudar a identificar áreas prioritárias para criação de novas unidades de conservação e no manejo das já existentes, somando esforços para evitar o desaparecimento dos Meros. “O censo também vai contribuir para comparar áreas protegidas, como o Parque Nacional Marinho das Ilhas dos Currais com áreas desprotegidas e assim verificar se as Unidades de Conservação cumprem seu papel”, completa Freitas.

Quando o Programa REBIMAR da Associação MarBrasil começou, era muito raro avistar um Mero na costa paranaense. Era um peixe que já estava praticamente em processo de extinção, não só no Paraná, mas em escala global.

Tudo começou em 1998, com o Projeto RAM (Recifes Artificiais Marinhos) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Após diversos estudos, foi feita uma intervenção inédita do estado para melhorar as condições de reprodução e abrigo de algumas espécies.

Foram afundadas cerca de duas mil estruturas de concreto e mais duas balsas graneleiras, na região do Parque Nacional Marinho de Currais e das Ilhas Itacolomis, formando o ponto conhecido hoje como Parque dos Meros. Além disso, a Associação MarBrasil, com o Programa REBIMAR, instalou 5500 estruturas de concreto para a manutenção e recuperação da biodiversidade marinha, paralelas à costa de Pontal do Paraná,  sendo este o primeiro projeto do Brasil de recifes artificiais marinhos com licença do IBAMA e do Ministério do Meio Ambiente”, detalha Robin Loose, coordenador de Logística e Operações Náuticas na Associação MarBrasil. 

Ao longo dos últimos anos, a MarBrasil acompanhou a evolução da fauna marinha e, desde 2009, o governo federal patrocina o REBIMAR. Os resultados são nítidos. A fauna se multiplicou e o Mero foi oportunamente uma das espécies que encontraram refúgio e alimento na nova “cidade submersa”. Além disso, as estruturas serviram como obstáculos para grandes embarcações pesqueiras e suas imensas redes de arrasto que varriam o fundo da costa.

Além do sucesso do ponto de vista científico e ambiental, a iniciativa permitiu a exploração saudável do oceano por meio do turismo. Considerando a escassez de ilhas e recifes naturais no litoral paranaense, a instalação dos recifes artificiais criaram uma paisagem fantástica que pode ser visitada por mergulhadores de todo o Brasil e do exterior.“Os recifes contribuíram o avistamento de Meros na região, uma vez que a espécie tem sido observada ao longo dos anos estudados, e já é sabido que anualmente agregam nesses ambientes para o evento de reprodução. O mergulho recreativo acompanhou esse desenvolvimento e hoje, as operadoras passaram a explorar as áreas devido à facilidade de avistamento dos Meros. O chamado Mero Watching ganhou repercussão nacional e trouxe renda a toda uma cadeia turística que inclui os barqueiros locais. Todos ganham com a proteção de uma espécie bandeira como o Mero”, enfatiza Cattani.

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