Ao comer cação você está consumindo raias e tubarões ameaçados de extinção e pode colocar em risco a própria saúde

Análises genéticas confirmam que uma série de espécies ameaçadas como tubarão-martelo, cação-anjo e raia-viola são vendidos como cação.

Tubarões são animais selvagens, mas o ser humano é muito mais perigoso. De acordo com o estudo ‘Global catches, exploitation rates, and rebuilding options for sharks’ (Capturas globais, taxas de exploração e opções de reconstrução para tubarões), publicado na revista científica Marine Policy, humanos matam cerca de 100 milhões de tubarões por ano.

No Brasil existem mais de 150 espécies de tubarões e raias de diversas formas, tamanhos e aspectos. Mais de um terço das espécies estão ameaçadas, em todo o globo, inclusive por aqui. A pesca é a principal causa dessa drástica redução nas populações e o consumo humano é uma grave ameaça.  As pessoas comem esses animais sem nem saber, e isso pode incentivar ainda mais a captura.

Ao fazer as compras, o consumidor escolhe entre carne bovina, de aves ou porco. Conhece os cortes específicos que vêm desses animais. Mas no caso dos pescados, aceita o que é vendido nas embalagens e compra gato por lebre. Também não tem acesso a informações sobre a procedência do peixe e como ele está em aspectos sanitários.

“Há uma série de espécies que são pescadas e vendidas sem identificação, então tudo acaba capturado, naquela máxima: ‘caiu na rede é peixe’. Diariamente, tubarões, inclusive ameaçados de extinção, são capturados nas redes de pesca. Tira-se a cabeça, as vísceras e eles são filetados ou cortados em postas e vendidos como cação. Mas não há dúvida, cação é tubarão”, reforça o pesquisador Hugo Bornatowski.

Bornatowski tem um longo histórico de pesquisa e interesse em tubarões. Desde criança esteve em contato com esses animais e dedicou grande parte dos trabalhos como biólogo para entender o comportamento e as ameaças às espécies. Atualmente integra a equipe do Programa de Recuperação da Bioiversidade Marinha, REBIMAR, da Associação MarBrasil. Para ele, as pessoas são induzidas, pela falta de informação, a consumir carne de uma espécie ameaçada e importantíssima para a natureza.

“A pesca não cessa, seja artesanal ou industrial. O REBIMAR trabalha para entender esse impacto já há mais de 3 anos. Coletamos e identificamos mais de 200 amostras de posta de cação à venda no Paraná. Fizemos a análise genética e confirmamos que uma série de espécies ameaçadas como tubarão-martelo, cação-anjo e raias-viola são vendidas sem controle algum”.

 “A nome cação é uma palavra portuguesa derivada do espanhol, que há muito tempo era atribuída a uma espécie de tubarão específica, mas há dezenas de anos acabou aplicada para todas as espécies de tubarão. Não importa se é pequeno, médio, grande, juvenil ou adulto, qualquer espécie vai para a prateleira”, comenta o pesquisador Hugo Bornatowski. 

Além do impacto ambiental, esse comércio ilegal pode afetar gravemente a saúde humana.  “Os tubarões são animais conhecidos como topo de cadeia, isto é, comem todos os outros animais e acabam sendo o ponto final do acúmulo de contaminantes, trazendo com isso sérios riscos à saúde dos consumidores da carne de cação. Nessa nova fase do projeto, o Programa REBIMAR, patrocinado pela Petrobras e Governo Federal, vai avaliar o nível de metais pesados como mercúrio e chumbo, para apurar se excede a faixa tolerada pela Anvisa para consumo humano”, explica Juliano Dobis, diretor da Associação MarBrasil e coordenador de políticas públicas do programa.

Nessa etapa, serão avaliadas 60 amostras das principais espécies de tubarões e raias que são comercializadas no litoral paranaense. O patrocínio vai contribuir   com a possibilidade de fazer as coleta e análises e, com os dados, será possível trazer informações para a população sobre os riscos desse consumo e também dar diretrizes para políticas públicas de conservação.

Você sabia?

O tubarão é uma máquina de percepção! Tem boa visão, olfato extremamente apurado e eletroreceptores no focinho detectam presas com máxima precisão, mesmo com água turva. Seu ouvido é capaz de sentir as vibrações de um peixe a centenas de metros de distância.

As pessoas frequentam o mar, lotam as praias no mundo inteiro e os eventos de ataques em humanos são muito raros, em média 10 por ano. Normalmente não é um ataque intencional, a mordida é apenas reação de defesa.

As taxas de exploração são insustentáveis. A pesca, seja acidental ou predatória, pressiona as espécies de uma forma brutal. Os tubarões têm reprodução lenta e maturidade sexual tardia, algumas espécies demoram de 10 a 15 anos para se reproduzir e, nesse período todo, a pesca destrói as populações.

“Quando acontece uma caça de uma onça-pintada, por exemplo, o impacto é muito grande na sociedade. Agora, quando um tubarão ameaçado morre, seja por pesca esportiva ou comercial, a repercussão é nula. Mas são animais que têm uma importância biológica muito grande, são similares. Um tubarão tem o mesmo valor biológico de um rinoceronte, de um panda, de um tigre, de um elefante e assim por diante, mas há essa aceitação maior da pesca. Trabalhamos para mudar isso”, conclui Bornatowski.

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