Pescadores e cientistas se unem para conservar raia viola no Paraná

Pescadores e cientistas se unem para conservar raia viola no Paraná

Um animal forte e robusto, como a raia-viola-de-focinho-curto, habita o fundo do mar, o
mesmo habitat do peixe linguado, valorizado comercialmente. Capturada por acidente nas
redes de linguado, sua sobrevivência só é possível pelas características de força e robustez e
pela dedicação de um projeto que envolve pescadores e a ciência.

O Programa Rebimar, patrocinado pela Petrobras, desenvolve uma logística de resgate,
cuidado e soltura das raias viola. Através do projeto, o bycatch, como é conhecida a captura
acidental, não representa o fim da vida das raias viola, que estão na lista vermelha dos
animais em extinção da União Internacional da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).

Todo ano, desde maio até meados de dezembro, é muito provável que os pescadores
artesanais no litoral Paraná voltem com centenas de raias presas nas redes de pesca. Ao
contrário do linguado, elas não têm comercialização no mercado de peixe. No mar, porém,
têm um valor imenso para a biodiversidade.

Segundo a bióloga e pesquisadora responsável pelo estudo de raias no Rebimar, Natascha
Wosnick, cerca de 95% das raias chegam com vida depois da captura. “Elas se mantêm vivas
mesmo depois de todo o estresse de passarem um a dois dias presas na rede e serem trazidas
empilhadas dentro do barco, uma viagem que pode durar até três horas até a praia”, conta
Wosnick.

Do barco para a piscina, e de volta ao mar

O grande sucesso do projeto vem de uma parceria. Pescadores artesanais e pesquisadores do
Rebimar estão em contato constante durante o período de captura acidental das raias. Um
acordo entre eles permitiu, nos últimos 10 anos, que quase 3 mil raias viola tivessem a saúde
recuperada e voltassem ao mar.

O desembarque ocorre em Matinhos-PR, onde podem descer cerca de 200 raias numa só
viagem. Os pescadores doam os animais ou recebem um valor simbólico em dinheiro por raia
capturada, como forma de compensar o trabalho de conservação.

E por que as raias não são soltas diretamente em alto mar? Wosnick explica que a
quantidade de raias nas redes pode ser expressiva. “Quando são pequenas ou estão grávidas,
os pescadores costumam soltá-las lá mesmo, no local de pesca. Mas no dia a dia, com
centenas delas, fica inviável para o trabalho tirar uma por uma. Nós consideramos a
realidade do pescador”, explica.

Quando é feito o desembarque, a equipe do Rebimar, que conta com cinco biólogos, é
acionada. Muitas são soltas ali mesmo, e algumas são escolhidas para o monitoramento, para
onde são transportadas em caixas de plástico por cerca de 50 minutos de carro até a sede do
Rebimar.

O Projeto Rebimar possui três piscinas para acomodar as raias viola, desenvolvidas
especialmente para esta função. “As piscinas mantêm as propriedades da água que são
interessantes para manter os animais com bem-estar”, conta o biólogo e técnico do projeto,
Leonardo de Paula Rios.

Este ambiente controlado conta com filtros biológicos que ajudam a limpar a água de
substâncias produzidas pelas próprias raias no momento de estresse e que, num espaço
muito menor que o mar, não são diluídas e são tóxicas aos animais.

Em cada piscina cabem cerca de cinco a seis raias, de acordo com o peso, que tem média de
600 gramas por indivíduo. “Ali são monitoradas, tratadas e avaliadas. No final de cinco dias,
aproximadamente, os marcadores de estresse mostram que elas estão aptas a voltar ao mar”.
A soltura é feita na praia, muitas vezes com a presença de crianças, numa atividade de
educação ambiental.

Segundo Rios, este trabalho mira a conservação da espécie. “A chance das raias se
reproduzirem estando saudáveis é maior, o que pode ajudar no aumento da população da
espécie ameaçada”, conta.

Conhecimento tradicional

As raias viola habitam o Oceano Atlântico, desde a ponta da Argentina, passando pelo
Uruguai e contornando a costa brasileira, alcançando as águas marinhas do Rio de Janeiro.
Apesar da vasta extensão de área onde vivem, os pescadores têm conhecimentos específicos
de localização valiosos para a conservação.

“Eles nos fornecem informações muito importantes como pontos de maior captura, onde
ocorrem mais machos ou mais fêmeas, as condições ambientais”, detalha Wosnick.

É por esses conhecimentos que o Projeto Rebimar valoriza o trabalho dos pescadores. Com a
ajuda deles, a pesquisa desenvolvida apresenta um banco de dados diverso, que contém
informações sobre a fisiologia das raias viola no Paraná, os locais de captura, o mapeamento
de dados reprodutivos, entre outros. Os próximos passos devem envolver ainda mais os
conhecimentos tradicionais e científicos.

“Queremos criar um modelo co-participativo de gestão deste recurso pesqueiro, com
inclusão dos pescadores nas tomadas de decisão; entender o que eles pensam das leis que
estão sendo criadas; se se sentem representados e quais práticas de conservação seriam
bem-vindas por eles”, conclui Wosnick.

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