Projeto Tintureira
O tubarão-tigre ou tintureira (Galeocerdo cuvier), é uma espécie de ocorrência global, encontrada em águas tropicais e subtropicais. O ciclo de vida é caracterizado por maturidade tardia, longa vida útil (até 50 anos) e longos períodos de gestação (14-16 meses). É um predador generalista comumente associado a áreas costeiras e insulares. Características intrínsecas do seu ciclo de vida, juntamente com a sua ocorrência em áreas amplamente utilizadas pelos seres humanos, tornam a espécie extremamente vulnerável a pesca e degradação de habitat. Apesar de ser classificada como “Quase Ameaçada” (IUCN e MMA), a espécie é muito explorada para o comércio de barbatanas, com evidências de redução populacional em águas nacionais.
Embora estes declínios não tenham sido devidamente quantificados, suspeita-se que se aproximem de 30% ao longo de três gerações, o que leva a espécie ao limiar da categoria Vulnerável, sob o critério A2bd, sendo necessários planos de gestão imediatos. A espécie é conhecida por sua sazonalidade, mas costuma realizar migrações transoceânicas, dificultando assim a criação e implementação de planos de manejo em nível local e internacional. Apesar dos Programas de Gestão da Pesca em execução nos EUA e Golfo do México desde 1993 (cotas de captura e permissões de acesso limitado para pesca comercial), não há legislação específica para regular a exploração de tubarões-tigre em todo o mundo. São muito comuns em águas brasileiras, mas o público em geral não tem ideia de sua ocorrência fora de Recife (PE), cidade costeira com as maiores taxas de ataque de tubarão por unidade de área no mundo. De fato, estudos recentes demonstram o aumento no número de ataques após a degradação de um importante berçário da espécie para a construção do Porto de Suape.
No Paraná, a espécie é comumente capturada, com predominância de fêmeas prenhes e neonatos nos desembarques no verão. Apesar das evidências de área de berçário no estado, nada se sabe a respeito da dinâmica populacional e uso de habitat por estes animais, sendo os dados existentes provenientes exclusivamente da pesca artesanal. Ainda, a construção do Porto de Pontal é alarmante devido a eminente destruição de parte da área de manguezal (e possivelmente berçário) para o assentamento do complexo, podendo causar desequilíbrio ambiental semelhante ao observado em Recife.Desta forma, esta proposta têm como objetivo determinar a dinâmica populacional, uso de área, e identificar a área berçário da espécie, utilizando metodologias nãoletais inéditas no Brasil e trazendo desta forma subsidio para a criação de planos de manejo baseados na criação de um santuário ou proibição de captura de fêmeas prenhes na região, garantindo assim a proteção integral no berçário além planos de contingência para a construção do porto e potencial aumento dos ataques na região.
Produtos e Resultados para a Conservação
Workshops colaborativos com a participação de pescadores artesanais da região, pesquisadores envolvidos no projeto e gestores para (1) a criação do mapa interativo de ocorrência e determinação das áreas berçário/prioritárias para a conservação da espécie na região, (2) produção do manual de boas práticas pesqueiras a serem distribuído aos pescadores e utilizado em caso de captura de fêmeas prenhes, (3) elaboração do plano de manejo (e.g. criação de santuário ou proibição de pesca de fêmeas prenhes) para a espécie a ser encaminhado para o ICMBIO através dos pesquisadores envolvidos no projeto que são colaboradores do Pan-Tubarões.
Sinergia com outras iniciativas de conservação
Este projeto visa aumentar o conhecimento da fauna marinha do estado do Paraná, gerando desta forma subsídio para os planos de manejo e recuperação de espécies-chave para a saúde e equilíbrio do ecossistema. Assim, os dados coletados e o conhecimento gerado irão agir em sinergia com ações de conservação previamente estabelecidas pela Associação MarBrasil, com foco nos resultados apresentados pelas 3 fases do programa REBIMAR.
Realização: Associação MarBrasil
Patrocínio: Fundação Grupo Boticário para a Conservação da Natureza
Apoio: UNESP – Instituto de Biociências, Universidade Federal do Paraná (UFPR).