As regiões costeiras estão sob pressão das atividades humanas que afetam o ecossistema regional e a dinâmica ecológica no Paraná. O aporte constante de poluentes oriundos de indústrias, zonasurbanas, portuárias e agrícolas contribuem com a inserção de elementos-traços, os quais afetam a estrutura química do habitat e podem alterar a saúde da fauna local. Tartarugas marinhas e algumas espécies de golfinhos residentes na região, utilizam a área ao longo de todo o ano. A relação com o habitat e as características biológicas das espécies os caracterizam como sentinelas quanto a saúde ambiental local e a exposição a elementos esta associada a alterações fisiológicas, que podem afetar os sistemas reprodutivo, nervoso, imunitário e o comportamento dos animais.

Levando em consideração a constante expansão das atividades humanas, este projeto visa a utilização de diferentes análises (contaminação, trófica e de saúde) nos tecidos de espécies marinhas vulneráveis que ocorrem no Paraná, integrando informações dos últimos 10 anos. Os resultados alertam à sociedade quanto a tendências e alterações do ecossistema, evidenciando sobre impactos ambientais nas escalas espacial, temporal e trófica, e trazendo suporte a discussões frente a segurança ambiental, alimentar e de saúde pública coletiva. A adequação dos métodos de análise e a consolidação de um laboratório paranaense de referência possibilitará o monitoramento de rotina dando suporte a tomadores de decisão e fiscalizadores.

Métodos
Exemplares de tartarugas e golfinhos encalhados mortos no litoral do Paraná são coletados e avaliados pelo Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC/CEM UFPR) por meio de monitoramento sistemático realizado desde 2007. Para estes indivíduos é obtida a biometria e a coleta de informações biológicas. As patologias vêm sendo avaliadas por meio de analises histológicas e execução de exames complementares moleculares para detecção de agentes etimológicos. Análises especificas referente a órgãos linfoides e que caracterizam as condições do sistema imune são priorizadas e serão utilizadas para avaliação comparativa no âmbito deste projeto, estabelecendo índices de vulnerabilidade dos espécimes e de degradação da condição de saúde.

As amostras biológicas foram mantidas congeladas (20°C) para as análises propostas (contaminantes e isótopos estáveis). Elementos químicos – o passo inicial para a determinação em golfinhos e tartarugas marinhas será testar e avaliar as metodologias de abertura de amostras estabelecidas em outros laboratórios para adequação ás condições regionais, utilizando materiais de referência para certificação do método e medidas de controle de qualidade (p.e. brancos em todas as baterias). Após validar os métodos, os elementos químicos (Ag, As, Cd, Cu, Cr, Hg, Mn, Ni, Pb, Se Zn) serão mensurados em amostras de tecido hepático, muscular e renal de 30 golfinhos e 30 exemplares de tartarugas marinhas coletadas entre 2009 e 2016 e nos principais itens da dieta.

A abertura das amostras será realizada com ataque ácido. A determinação dos elementos será efetuada por meio da técnica de Espectrometria de Emissão Ótica com Plasma Indutivamente Acoplado (ICP OES equipamento Perkin Elmer, modelo Optima7000DV), equipamento disponível no CEM/UFPR. Os isótopos estáveis do carbono e nitrogênio são utilizados para caracterizar as relações dentro das teias alimentares em ecossistemas aquáticos, pois evidenciam posição trófica do organismo e as fontes de energia (Post, 2002). As análises isotópicas serão realizadas em músculo, em laboratório terceirizado reconhecido, sendo determinadas em espectrômetro de massa acoplado a um analisador elementar. As razões isotópicas do carbono e nitrogênio serão expressas pela notação delta (δ), em partes por mil (‰).

A análise do perfil de elementos-traço e isótopos nos tecidos dos espécimes de forma associada pode evidenciar parâmetros de distribuição e utilização de áreas pelas espécies na região costeira paranaense e adjacências, além de gerar as informações quanto aos níveis atuais de contaminação química necessárias para estabelecimento de comparações de médioprazo (10 anos, como proposto) e avaliação de respostas à saúde ambiental e aos impactos ecossistêmicos. As informações serão integradas e será elaborado como produto um escore de vulnerabilidade e degradação de condição histórica de saúde dos animais.

Espécies Ameaçadas (categorias IUCN/MMA)
A tartaruga-verde (Chelonia mydas). Categoria internacional (IUCN): Ameaçada. Categoria
nacional (MMA): vulnerável.
A tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta). Categoria internacional (IUCN): Ameaçada. Categoria
nacional (MMA): vulnerável.
O boto-cinza (Sotalia guianensis). Categoria internacional (IUCN): Insuficientemente conhecida.
Categoria nacional (MMA): vulnerável.

Realização: Associação MarBrasil
Patrocínio: Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza
Apoio: Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (CEM/UFPR), Laboratório de Ecologia e Conservação (UFPR), Laboratório de Paleontologia (UFPR), Laboratório de Química Orgânica (USP)